A evolução das sociedades, tecnologias e organizações cria diferentes necessidades e oferece novas possibilidades para resolvê-las. A inovação disruptiva é uma dessas.
Primeiramente, a inovação é uma característica fundamental que as organizações devem incorporar como condição para oferecer soluções sustentáveis e eficientes. Porém, nem todas as inovações são adequadas; quando o custo for muito alto para os benefícios obtidos ou se a qualidade e a segurança dos serviços forem reduzidas para a diminuição de custos, esses tipos de inovações não são úteis para as organizações de saúde.
Então, o sistema de saúde nos estados (SUS) oferece cobertura universal, o que significa que as pessoas mais ricas e mais pobres têm direito aos mesmos serviços. É, portanto, o conceito de necessidade crescente que impulsiona o acesso aos cuidados de saúde.
Nesse contexto, uma inovação disruptiva seria aquela que permitisse o acesso generalizado a um produto ou serviço anteriormente acessível apenas àqueles com maior necessidade ou que não enfrentam grandes barreiras de entrada.
Portanto, se uma das características de uma inovação disruptiva é “permitir o acesso a um produto ou serviço anteriormente acessível apenas aos ricos ou experientes, baixando a qualidade”.
Inovação disruptiva
Outro aspecto da inovação disruptiva, nomeadamente a sua capacidade de “criar novos mercados”, pode ser mais facilmente aplicável. Portanto, nesse caso, é possível projetar novos produtos, novos serviços ou novas formas de fazer as coisas, atendendo melhor às necessidades de saúde (maior valor: maior qualidade e custo razoável dos serviços relevantes).
A ideia de que a introdução de novas formas de fazer as coisas, às vezes, causa a substituição da velha maneira, podendo ser um elemento poderoso para possibilitar melhorias, se aplicada corretamente.
Essa inovação disruptiva substitui os antigos sistemas e formas de fazer as coisas.
Além da definição “europeia” de inovação disruptiva, o Painel também elaborou uma nova taxonomia de inovações disruptivas com base em “campos de aplicação” e suas categorias.
As principais categorias identificadas são quatro:
- tecnológico (tecnologias de baixa e alta complexidade)
- organizacional (modelos, estruturas, processos)
- produtos e serviços
- recursos humanos (pessoal de saúde, pacientes, cidadãos e comunidades).
Esta classificação, com base no campo de aplicação, é evidentemente uma categorização teórica, pois na realidade uma inovação disruptiva pode muitas vezes, afetar mais de um campo de aplicação, por exemplo, podemos ter um novo modelo organizacional que pode tornar uma determinada tecnologia obsoleta.
Além disso, a inovação disruptiva pode criar novas necessidades em outro campo: por exemplo, a introdução de um novo modelo organizacional pode criar novas necessidades que exigem novos profissionais ou profissionais de saúde, que por sua vez, requerem formação profissional específica.
Quais serão as áreas estratégicas para inovação disruptiva na área da saúde?
À luz do conhecimento atual, é possível levantar a hipótese de que as inovações disruptivas na área da saúde estarão concentradas em três áreas estratégicas: pesquisa translacional, tecnologias e medicina de precisão.
Inovação disruptiva: Pesquisa translacional
As inovações, incluindo as inovações disruptivas, podem ocorrer em qualquer ponto da pesquisa translacional: “descoberta básica; prova conceitual sobre o homem; desenvolvimento clínico; Medicina baseada em evidências; adoção prática; avaliação de saúde pública; estado de saúde da comunidade; serviço de saúde global.”
Indiscutivelmente, a inovação mais disruptiva na área da saúde nos últimos 10 anos foi a mudança na posição do paciente de um ator bastante passivo, submetido a procedimentos e obrigado a cumprir regimes terapêuticos, para um sujeito ativo, que define metas, que controla indicadores e que co produz seu próprio plano de cuidados.
Tecnologias
A medicina no Século XXI está cada vez mais dependente da tecnologia, definida como qualquer intervenção que pode ser usada para promover a saúde, prevenir, diagnosticar ou tratar doenças, reabilitação ou cuidados de longa duração.
Existem três níveis de tecnologia:
- A primeira, quando surge uma situação em que não há muito a ser feito para mudar o curso da doença; entretanto, muito pode ser feito para ajudar os pacientes durante o episódio da doença. Um exemplo são os cuidados de suporte e avanços técnicos que facilitam o processo de cuidado para os cuidadores.
- A segunda, quando é possível influenciar o curso da doença e melhorar os resultados. A tecnologia é frequentemente usada em hospitais e é cara. Os exemplos podem ser radioterapia ou cirurgia de câncer, tratamento de vítimas de poliomielite no pulmão de aço, diálise e transplante para insuficiência renal crônica.
- A terceira é baseada na compreensão total da doença. A tecnologia poderia, portanto, oferecer prevenção e tratamento de baixo custo. Um exemplo seria a descoberta do papel do Helicobacter pylori como principal causa de sangramento de úlcera estomacal na década de 1980, o que revolucionou o processo de tratamento e eliminou a necessidade de cirurgia para úlcera. A verdadeira compreensão da doença facilita a possibilidade de disponibilização do tratamento a todos, sem desperdícios e determina melhora significativa no desfecho.
Como são implementadas as inovações disruptivas na área da saúde?
Para realizar a inovação disruptiva na área da saúde, deve haver elementos que possam atuar como impulsionadores ou fatores facilitadores, onde é necessário superar barreiras e obstáculos.
Os drivers são elementos que criam ou desenvolvem uma inovação específica, possibilitando alterações em pessoas ou coisas.
Entre os primeiros podemos listar:
- foco na saúde das populações, e não nos indivíduos
- usar dados, informações e ferramentas de apoio à decisão
- criar um continuum de cuidados desde a promoção e prevenção até o tratamento e recuperação para um melhor gerenciamento da doença
- experimentar novos modelos de assistência e financiamento assistencial
- estabelecer um sistema de atenção primária à saúde de alta qualidade universalmente acessível a todos os cidadãos.
No que diz respeito aos fatores de habilitação:
- usar abordagens de promoção da saúde e prevenção de doenças e gestão de casos eficaz para melhorar a saúde da população e reduzir doenças e emergências
- usar registros eletrônicos de saúde
- cultivar uma consciência compartilhada da importância das diretrizes de qualidade e intervenções de saúde baseadas em evidências
- investir menos dinheiro em tecnologia de ponta e mais em tecnologias que simplificam os problemas de saúde
- abraçar a cultura de experimentação e aprendizagem no nível da organização
- promover treinamento interprofissional
- desenvolver a integração da saúde e assistência social.
Finalmente, os incentivos são fatores que motivam ou encorajam alguém a fazer algo. Os incentivos são importantes para atrair, reter, motivar, satisfazer e melhorar o desempenho dos sistemas de saúde.
Eles podem ser aplicados a grupos, organizações e indivíduos, sendo positivos ou negativos (como desincentivos), financeiros (por exemplo, programas de financiamento de pesquisa) ou não financeiros (como a criação de projetos-piloto) e tangíveis ou intangíveis.
Quais são os obstáculos para a realização de inovações disruptivas?
O fracasso em fornecer inovações disruptivas potencialmente importantes pode ser determinado pela resistência de pessoas ou organizações afetadas pela inovação.
Em alguns casos, as inovações disruptivas não apenas foram ignoradas, mas também sujeitas a ações de descrédito. Em outros casos, a regulamentação tem dificultado a implementação, com o efeito de manter o status quo. Nestes casos, torna-se necessário superar a potencial inércia da regulação.
Um caso para se inspirar
O Hospital Infantil da Filadélfia é uma das referências na área. Eles são a base de várias inovações disruptivas, incluindo avanços recentes em imagens linfáticas, imunoterapia contra câncer e doenças inflamatórias intestinais. É o berço do spin-out “Spark Thereapeutics”, ativo na terapia gênica.
Com base no seu sucesso, a organização continua a evoluir, notadamente com a abertura, em 2015, do cargo de Vice-presidente para Empreendedorismo e Inovação, atualmente ocupado por Patrick K Fitzgerald.
Sua missão é fornecer suporte centralizado para inovações existentes e futuras a partir da inovação disruptiva. O modelo não apenas apoia a inovação, mas se tornou um verdadeiro produtor de soluções inovadoras no coração de seu ecossistema, garantindo o estabelecimento de canais de distribuição eficientes e oportunidades de aumento de escala. Essa comercialização de inovação desempenha um papel crucial no financiamento dos esforços contínuos da organização.
É através deste processo (emergência, seleção, desenvolvimento, promoção) que o projeto garante o acesso às melhores tecnologias, a excepcional qualidade da experiência do paciente e a melhoria contínua das capacidades de investigação do hospital.
Patrick K Fitzgerald destaca vários pilares da cultura desenvolvida no coração do hospital
- A disseminação da razão de ser, o reforço do sentido das ações, a percepção de realização de cada indivíduo no hospital;
- Uma comissão científica formal dedicada a projetos de inovação, selecionando de 8 a 10 projetos por ano e disponibilizando os recursos necessários ao seu desenvolvimento e, quando aplicável, à sua promoção;
- A criação de um centro de simulação para desenvolver em modo lean, para configurar mais facilmente as fases de teste e envolver mais os stakeholders e usuários;
- Numerosas parcerias externas com diversos atores (financeiras, empresas de tecnologia, instituições, etc.)
Além disso, a qualidade dos próprios tratamentos melhorou consideravelmente. Embora no passado o uso de um antibiótico de amplo espectro fosse um pré-requisito antes de administrar a molécula certa, o processo agora foi simplificado.
Os avanços feitos na pesquisa por empresas de biotecnologia são significativos, especialmente no campo das terapias direcionadas. Por exemplo, o Herceptin pode atualmente ser usado para tratar um tipo específico de câncer de mama que apresentava uma das taxas de mortalidade mais altas há dez anos.
Além da imuno-oncologia, várias áreas da medicina passaram por verdadeiras revoluções nos últimos anos, como a genômica e a microbiota. As apostas são enormes e os possíveis benefícios estimulam os interesses de grandes laboratórios científicos. Este é um caso de inovação disruptiva muito esclarecedor!
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